ser vocĂȘ Ă© tĂŁo difĂcil quanto fingir.
âMudar Ă© difĂcil, mas pior Ă© ficar no mesmo lugar sempre. Se estĂĄ sendo difĂcil, algo estĂĄ se movimentando â e talvez melhorando.â
Isso (ou quase isso) foi o que o meu professor de PortuguĂȘs me disse recentemente , no final do meu segundo ano do Ensino MĂ©dio.
Ă engraçado como, em cada ano, obtemos uma versĂŁo diferente de nĂłs mesmos â e, ainda assim, somos a nossa prĂłpria essĂȘncia, trabalhada de formas diferentes.
E o que o meu professor me disse me fez ficar pensativa sobre isso, pois eu nunca tinha tido essa perspectiva sobre mudanças, e me encontro em uma crise onde não me reconheço mais.
Ultimamente, tenho me encontrado em um momento de introspecção social. Todos ao meu redor me causam tédio.
Eu sinto saudade de quando tudo era novo: quando as primeiras saĂdas para festas me causavam frio na barriga, quando ia conhecer pessoas novas e isso era completamente extraordinĂĄrio para mim.
Hoje, jĂĄ com todas essas experiĂȘncias, nĂŁo sinto Ăąnsia por nada â e sinto falta desse desejo.
Porém, só quero conhecer algo novo, mas não sei onde encontrar essas pessoas ou lugares que irão me encantar.
E, no meio de toda essa confusĂŁo mental, chegar Ă conclusĂŁo de que eu sĂł quero conhecer pessoas novas e lugares novos â e a percepção de que eu nĂŁo me encaixo mais nos mesmos ciclos â me fez perceber que recriar a prĂłpria essĂȘncia, ou seja, ser vocĂȘ, Ă© sempre muito difĂcil.
Se forçar a estar em ciclos nos quais vocĂȘ nĂŁo se sente pertencente Ă© ter um choque toda vez que vĂȘ que as suas novas ideias nĂŁo cabem mais naquele lugar â que vocĂȘ nĂŁo cabe mais naquele lugar.
E, até onde eu sei, crescer é sobre isso, né?
A gente aceita o processo porque Ă© obrigatĂłrio, mas nĂŁo o processa 100% das vezes.
E a dor se torna uma questĂŁo, atĂ© vocĂȘ se ver isolado e nĂŁo entender por que nĂŁo estĂĄ rodeada de pessoas, se vocĂȘ nĂŁo se acha chata o suficiente para ser isolada.
Mas a questĂŁo Ă© que vocĂȘ nĂŁo foi: vocĂȘ se isolou, por um processo de autoconhecimento.
Querendo ou nĂŁo, sozinhos, quando nos vemos sem influĂȘncias fortes de pessoas que estavam sempre por perto, temos mais contato com o nosso interior â e começamos a questionar se, por exemplo, nĂłs sempre gostamos mesmo de determinado tipo de mĂșsica, ou sĂł fizemos isso para nos encaixar.
E Ă© aĂ que dĂłi â que Ă© quando vemos que fingimos ser uma figura que nĂŁo somos, que nĂŁo nos apresentamos verdadeiramente como quem somos, e sim como quem achamos que as pessoas gostariam de conhecer.
Quando abandonamos a carcaça que fingĂamos ser e nos apresentamos como o ânovo euâ, a vida se apresenta de uma forma diferente.
Tudo Ă© novo, porque tudo o que nos identificamos Ă© diferente do que nos identificĂĄvamos.
A sensação é de ter encontrado coisas maravilhosas para falar sobre, mas não ter com quem falar, porque ainda não encontrou a pessoa que vå entender.
âsolidĂŁo ou solitude?â
Mas se apresentar ao novo e ter a coragem de se despedir do seu passado e da sua versão anterior é um dos atos mais lindos e destemidos que alguém pode ter.
A vida, em suas inĂșmeras faces, pode se apresentar sempre diferente â mesmo estando em um cenĂĄrio igual, os personagens sempre tĂȘm a opção de se diversificar em si.